Exossomos tratam queda de cabelo ou alopecia? - Fabiana Caraciolo

Exossomos tratam queda de cabelo ou alopecia?

 

Exossomos são o assunto do momento nas redes sociais, com promessas que vão desde a melhora da pele até o combate à queda de cabelo e à alopecia.

 

Mas, o que são exossomos?

 

Exossomos são vesículas muito pequenas produzidas dentro das células de plantas e animais.

Eles atuam como mensageiros, transportando informações de uma célula para outra, permitindo assim uma comunicação entre elas.

 

 

 

 

Então, quando uma célula deseja passar informações para outra célula, ela coloca essas informações dentro dos exossomos, que são então colocados para fora da célula e viajam para entregar as informações às células destinatárias.

Então, os exossomos seriam como pacotinhos de correio que as células usam para enviar mensagens umas para as outras.

 

O que tem dentro de um exossomo?

 

 

O exossomo é envolvido por uma membrana formada por lipídeos que mantém o seu conteúdo seguro, e dentro dos exososmos há:

  • Proteínas como, por exemplo,  fatores de crescimento.
  • Material genético: DNA e, mais frequentemente, RNA, que é uma molécula que transporta informações genéticas.

Quando o RNA é transferido de uma célula para outra através dos exossomos, ele pode alterar o comportamento da célula receptora. E isso pode levar a várias mudanças como a proliferação celular, migração, e modulação da inflamação.

Os exossomos de uma célula cancerígena, por exemplo, podem tornar células normais mais propensas a se tornarem malignas.

Além disso, exossomos podem transferir partículas virais de uma célula infectada para uma célula saudável, facilitando a disseminação de vírus.

Podemos perceber então que os exossomos são como pacotinhos surpresa, que podem levar tanto coisas boas quanto coisas ruins de uma célula para outra.

 

Potencial dos exossomos na Dermatologia

 

Os exossomos têm sido promovidos como uma possível solução para várias questões dermatológicas.

Eles poderiam fazer as células da pele se multiplicarem e se regenerarem, ajudando na cicatrização de feridas.

Poderiam estimular a produção de colágeno, deixando a pele mais firme.

Poderiam reduzir a resposta inflamatória da pele, e até controlar a produção de melanina, o que seria interessante no tratamento do melasma, por exemplo.

No entanto, essas são apenas promessas e ainda não há evidências científicas suficientes para afirmar que os exossomos realmente oferecem esses benefícios.

 

 

Em relação a cabelo, os exossomos poderiam estimular os folículos capilares a entrarem e permanecerem por mais tempo na fase de crescimento, resultando em menos queda e cabelos mais longos e grossos.

No entanto, a evidência científica é bastante limitada, com a maioria dos estudos feitos em cultura de células em laboratório ou em ratos, e a gente não pode afirmar que o que acontece em uma placa de laboratório ou em ratos vai acontecer em um humano.

Há apenas três estudos realizados em humanos publicados até o momento.

O primeiro, realizado na Coreia do Sul em 2019, avaliou 20 pacientes e evidenciou um aumento de 16% na densidade capilar e de 11% na espessura dos fios após 3 meses de tratamento com exossomos. No entanto, não foram fornecidos os dados sobre a origem dos exossomos, se foi feito microagulhamento e quantas sessões foram feitas.

O segundo estudo, publicado em 2022, avaliou 39 pacientes com calvície que receberam exossomos de origem animal no couro cabeludo após microagulhamento, semanalmente, por 12 semanas, resultando em um aumento de 20% na densidade capilar e de 16% na espessura dos fios.

Este estudo apresentou um importante conflito de interesse, pois o autor principal era o fundador e acionista da empresa que produziu os exossomos utilizados.

 

 

 

O terceiro estudo em humanos foi publicado em agosto deste ano e avaliou a resposta de 30 pacientes com calvície a um tratamento com exossomos derivados de planta da marca que mais está sendo divulgada atualmente no Brasil: ASCE Plus HLRV.

Os exossomos foram colocados sobre o couro cabeludo dos pacientes após microagulhamento.

As sessões foram realizadas a cada 2 semanas nos primeiros 3 meses (7 sessões); depois a cada 3 semanas por mais 3 meses (3 sessões); e os pacientes foram avaliados pelos pesquisadores 3 semanas após a última sessão.

Após as 24 semanas do estudo, os autores evidenciaram por análise fotográfica que 10,34% of participantes estavam piores do que antes do tratamento, 37,93% estavam iguais a antes do tratamento, 41.38% estavam levemente melhores e apenas 10,34% foram calassificados como realmente melhores do que antes do tratamento com o microagulhamento e exossomos.

Além disso, os autores relataram no estudo que a média de aumento da densidade capilar foi de apenas 5,13%.

O estudo teve um conflito de interesse importante, pois um dos pesquisadores é o fundador e acionista da empresa ExoCoBio, que fabrica o exossomo utilizado no estudo.

Mas independente disso, um fato muito importante é que, com o minoxidil tópico ou oral, nós já costumamos conseguir resultados melhores do que os encontrados nestes estudo; e minoxidil é uma medicação barata enquanto que o tratamento com exossomos é muito caro.

Além disso, em nenhum destes estudos publicados até agora, houve um grupo controle apenas com microagulhamento para comparação; assim, não sabemos se parte ou todo o benefício obtido pelos pacientes destes estudos foi devido ao microagulhamento.

 

Segurança dos Exossomos

Nos Estados Unidos, os exossomos não são autorizados para uso em consultórios.

 

No Brasil, os exososmos que vêm sendo utilizados são de planta, eles são registrados na Anvisa como cosméticos, podendo ser aplicados apenas sobre a pele intacta.

Ou seja, não é permitido pela Anvisa colocar exossomos em áreas de pele que foram perfuradas com microagulhas ou tratadas com algum laser que crie microcanais.

Esta restrição visa garantir a segurança dos pacientes, evitando que os exossomos causem efeitos adversos sérios.

Para que, no futuro, os exossomos sejam liberados para serem colocados dentro da pele dos pacientes, será essencial uma fiscalização rigorosa da pureza dos produtos para evitar infecções, e também são necessários estudos maiores e com acompanhamento a longo prazo para avaliar possíveis riscos, como doenças autoimunes e tumores.

 

Conclusão

Embora os exossomos pareçam uma terapia promissora, mais pesquisas são necessárias para avaliar sua eficácia e segurança.

E estas pesquisas devem ser conduzidas em centros autorizados, sem custos para os pacientes, e com informações claras sobre os riscos envolvidos, ao invés de serem realizados em consultórios como experimentos pagos.


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REFERÊNCIAS:

 

  • Kalluri R, LeBleu VS. The biologyfunction, and biomedical applications of exosomesScience 2020;367:eaau6977. doi:  10.1126/science.aau6977
  • Gupta AKWang TRapaport JASystematic review of exosome treatment in hair restoration: preliminary evidence, safety, and future directionsJ Cosmet Dermatol202322(9): 24242433. doi:10.1111/jocd.15869

 

  • Y. ZhouJ. SeoS. TuA. NanmoT. KageyamaJ. Fukuda. Exosomes for hair growth and regeneration. J. Biosci. Bioeng. 2024137(1), 1. doi 10.1016/j.jbiosc.2023.11.001

 

  • Buontempo MG, Alhanshali L, Ide M, Lo Sicco K. Examining the uncertainties surrounding exosome therapy in androgenetic alopecia: a call for evidence-based practice. J Drugs Dermatol. 2024 Mar;23(3):e86-e90. doi: 10.36849/jdd.7603.

 

  • Lee E, Choi MS, Cho BS, Won YJ, Lee JH, Kim SR, Kim MH, Jeon JH, Park GH, Kwon HH, Lee J, Park KY, Park BC. The efficacy of adipose stem cell-derived exosomes in hair regeneration based on a preclinical and clinical study. Int J Dermatol. 2024 Sep;63(9):1212-1220. doi: 10.1111/ijd.17406. Epub 2024 Aug 18. PMID: 39155501.

 

  • Lidia RudnickaMałgorzata Olszewska. The emerging role of exosomes in the treatment of hair loss. International Journal of Dermatology. 2024. doi: 10.1111/ijd.17426

 

 

 

 

 

 

 

 

1 Comentário

  1. Karina disse:

    Muito boas considerações! Parabéns!!

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