Óleo de semente de abóbora trata queda de cabelo ou alopecia? - Fabiana Caraciolo

Óleo de semente de abóbora trata queda de cabelo ou alopecia?

 

Nos últimos anos, o óleo de semente de abóbora ganhou destaque em propagandas nas redes sociais como um “tratamento natural milagroso” para queda de cabelo e alopecia. Mas será que ele realmente funciona?

Como dermatologista especializada em tricologia, analisei cuidadosamente as evidências científicas disponíveis até o momento e a verdade é que a fama do óleo de semente de abóbora vai muito além daquilo que a ciência realmente comprova.

 

Por que o óleo de semente de abóbora poderia ajudar no tratamento da calvície?

O óleo de semente de abóbora contém fitoesteróis (como o beta-sitosterol), ácidos graxos poli-insaturados, vitamina E, carotenoides e fitoestrógenos.

A hipótese científica por trás de seu uso em alopecia androgenética (calvície) é que o beta-sitosterol inibe a enzima 5α-redutase, responsável por transformar testosterona em diidrotestosterona (DHT), que é o principal hormônio envolvido na calvície.

Esse é o mesmo mecanismo de ação da finasterida, um medicamento amplamente utilizado para tratar alopecia. No entanto, enquanto a finasterida é uma “moto potente”, o óleo de semente de abóbora é apenas uma “bicicleta” nessa via bioquímica, ou seja, atua de forma semelhante, porém com efeitos muito mais modestos e imprevisíveis.

 

O que os estudos realmente mostraram

A maior parte do entusiasmo em torno do óleo de semente de abóbora vem de um único estudo coreano publicado em 2014. Foi um ensaio clínico pequeno com 76 homens com alopecia androgenética leve a moderada. Os resultados apontaram que, após 24 semanas de uso de 400 mg diários de óleo de semente de abóbora:

  • Houve um aumento de 40% na contagem de fios de cabelo, contra apenas 10% no grupo placebo.
  • Os voluntários relataram melhora na espessura e na cobertura capilar.
  • Não houve mudança significativa no diâmetro médio dos fios.

Importante: o estudo não incluiu mulheres, o que impede extrapolações para o público feminino.

E esse ponto é crucial, pois nem tudo que funciona bem para homens apresenta o mesmo resultado em mulheres. A finasterida 1 mg, por exemplo, funciona bem para calvície masculina, mas, em mulheres, não mostrou bons resultados nos estudos.

Na prática clínica, utilizamos doses mais altas de finasterida para tentar algum benefício na calvície feminina, e mesmo assim, o efeito costuma ser mais discreto do que o observado nos homens.

E o mesmo ocorre até com a dutasterida, que é mais potente que a finasterida: enquanto, nos homens, ela proporciona excelentes resultados, nas mulheres, quando há melhora, ela tende a ser modesta. O peso do hormônio DHT na calvície feminina parece ser menor, e outros fatores fisiopatológicos ainda carecem de elucidação. Por isso, atualmente, ao invés de chamarmos a calvície feminina de alopecia androgenética, preferimos o termo alopecia de padrão feminino.

Na mulher, a grande estrela do tratamento continua sendo o minoxidil.

Como não há, até o momento, estudos com mulheres com problemas capilares, não podemos dizer que o óleo de semente de abóbora traz qualquer benefício para tratar queda de cabelo ou alopecia.

 

Comparação com tratamentos consagrados

Não há nenhum estudo clínico comparando óleo de semente de abóbora com finasterida.

Ambos atuam inibindo a 5α-redutase, mas apenas a finasterida tem eficácia robustamente comprovada, com redução consistente da DHT e melhora sustentada da calvície masculina.

Já o óleo de semente de abóbora apresenta efeito mais brando e incerto, podendo ser considerado apenas como possível complementar e não substituto aos tratamentos médicos estabelecidos.

Também não há estudo clínico comparando a ingestão de óleo de semente de abóbora com minoxidil.

 

 

Nem toda queda de cabelo é causada pelo DHT

A maioria das quedas de cabelo em mulheres não são causadas pelo DHT. A calvície feminina se manifesta mais com afinamento dos fios do que queda.

Queda de cabelo em mulheres é geralmente decorrente do chamado eflúvio telógeno agudo que pode acontecer por diversas causas como pós-parto, pós-viroses (como covid e dengue), pós-perda de peso etc. Este tipo de queda, felizmente, melhora sozinho, ou seja, tomando óleo de semente de abóbora ou não, a queda vai embora após cerca de 3 meses.

Outra condição que causa que de cabelo é o eflúvio telógeno crônico, que se caracteriza por um encurtamento da fase de crescimento do cabelo e o tratamento padrão ouro é o minoxidil e não óleo de semente de abóbora.

 

O perigo das promessas exageradas

Grande parte do sucesso comercial do óleo de semente de abóbora se deve a campanhas de marketing enganosas, que usam frases como “tratamento natural com resultados consistentes” ou exibem imagens de antes e depois irreais. Porém, essas promessas não refletem a evidência científica atual.

Os resultados observados em estudo real foi sutil e lento, traduzindo-se em pequenas melhoras na densidade e manutenção dos fios e não em “crescimento de cabelo novo” ou “restauração total de áreas calvas”.

Além disso, muitas formulações vendidas no mercado combinam óleo de semente de abóbora com outros ingredientes, tornando impossível saber qual componente gera o efeito observado.

Portanto, ao contrário do que o marketing sugere, o óleo de semente de abóbora não é um tratamento milagroso e não deve ser visto como um substituto real para terapias consagradas como a finasterida ou o minoxidil. Ele pode, no máximo, atuar como coadjuvante, oferecendo suporte discreto ao tratamento.

 

O que realmente trata calvície

A alopecia androgenética é uma condição complexa. Os tratamentos com comprovação científica e resultados previsíveis incluem:

  • Finasterida e dutasterida (inibidores da 5α-redutase)
  • Minoxidil (tópico ou oral)
  • Correção de deficiências nutricionais e distúrbios hormonais, se existentes.

Essas abordagens têm evidências robustas e devem sempre ser utilizadas com acompanhamento médico dermatológico.

 

Conclusão

Apesar de o óleo de semente de abóbora conter compostos que teoricamente poderiam beneficiar pessoas com calvície, a evidência científica disponível é insuficiente para considerá-lo um tratamento eficaz contra a queda de cabelo ou alopecia.

Há apenas um estudo pequeno realizado até o momento para investigar seu uso na calvície em homens apenas, e a comparação foi feita apenas com placebo. Assim, o entusiasmo popular e o marketing agressivo superam em muito a realidade científica.

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